quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sabiá

Achei que tinha te ouvido cantar. Corri para janela, na doce esperança de matar sufocada essa saudade maldita que eu sinto de você. Mas não era nada, não era ninguém. Talvez tenha sido só impressão, fruto dessa falta que você me faz.
Ah, passarinho, por que fazes assim? Tanto que pedi para que voltasse, sabes que jamais o prenderia. Mas as folhas da minha laranjeira parecem não mais te agradar, eu sei, estão meio amareladas, meio mal tratadas, é que a chuva nunca mais veio, e água com que eu o rego não se faz suficiente.
Essa esperança que eu carregava grudada em mim, anda se desprendendo, penso que talvez eu nem mesmo te vejas mais. Ah, meu querido, por que tem de ser assim? Eu gostava tanto, tanto de ti. E ainda gosto. O bem que te quero é enorme, mas tu não enxergas, pequenino. Não sei por qual motivo, mas ultimamente quando me recordo de ti, imagino um novo olhar de acusação, um pio mais triste, o que a vida fez da gente, meu querido sabiá?
Não quero cobrar-te, somente recordar: lembras que havias prometido, ao final de uma canção, que retornarias? Lembras que me pediu para enxugar as lágrimas de saudades, que nunca deixarias de visitar minha laranjeira? Eu realmente acreditava nisso, costumavas cumprir aquilo que prometias, só que nunca mais viestes cantar para mim.

"O maior obstáculo para eu ir adiante: eu mesma.
Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho.
É com enorme esforço que consigo me sobrepor a mim mesma.
"Clarice lispector"

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