quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"Eu nunca estive tão ao meio e tão inteira, ao mesmo tempo. Eu me divido entre o esperar e florescer, entre o não-era-pra-ser e o algo-melhor-está-por-vir, entre clichês e exceções. E, no meio disso tudo, tenho conseguido manter a inteireza da minha natureza íntima, embora inevitavelmente um pouco mais descrente."

Gabriela Castro

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

então ela sorriu


Esquece essa gente pequena, dona moça. Não é todo mundo que guarda no peito, um baú feito o seu, cheio de inspiração, flores, cores e delicadezas. Tem gente que transforma o que passou, em mágoa. Feliz é você, dona moça, que pega o que restou do passado e transforma em poesia.
Karla Tabalipa
Quer me conhecer? Me encontre naquele romance antigo, segundo parágrafo, mostrando que a solidão não deve se atravessar a sós. Talvez eu possa – e isso é quase certo – me mudar pros tons daquela bela música e por lá ficar: “feita de luz mas que de vento”… Ah, me desculpem os Jungs, Freuds e Lacans. Mas Chico Buarque me entenderia! Alguns artistas – e nisso incluo poetas, músicos e demais sonhadores – parecem conhecer a fundo a alma humana. Quando falam de si, mostram um pouco também de nós. Quem nunca pensou, ao menos por um segundo: essa canção foi feita pra mim? Eu já me apropriei de centenas de músicas (com o devido crédito ao autor, é claro), que dizia serem “minhas”. Naquele momento, elas – e só elas – pareciam entender o que eu sentia. Letra por letra. Rima por rima. Em cada nota, um espanto. E uma sensação de pura comunhão com o mundo: é, eu não estou sozinha. A arte também foi feita pra unir. Pra protestar. Para seduzir. Por isso, passo a vida escrevendo. Lendo. Garimpando frases. Buscando o verso certo. A estrofe perfeita. Ou um conhecimento maior sobre mim mesma. Se estou conseguindo? Não sei. A arte nem sempre é bondosa. Um dia nos pega no colo e, no outro, nos faz enxergar o que ainda é difícil de ver. Mas tudo bem. Enquanto houver um poema pra nos consolar e uma boa canção pra nos comover, “a gente vai levando”. 
[Fernanda Mello]

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Busca


Dizem que eu espero demais de um cara. Que eu fico idealizando uma história de amor, que eu espero um príncipe encantado. Será possível que é realmente querer muito, esperar que alguém seja verdadeiro? Que as atitudes de uma pessoa, sejam condizentes com as coisas que ela diz? 
Pra mim, o bonito do amor entre homem e mulher, é o andar de mãos dadas, o filme no sofá no fim de tarde, uma troca de olhares, um colo nos momentos difíceis.
Eu não quero promessa de eternidade, como já quis um dia, eu só quero viver o ‘hoje’ tranquila.
Eu não quero ninguém ao meu lado, por medo de solidão. Eu quero alguém perto, por vontade de estar.
Se for pra ser diferente disso, prefiro ficar sozinha, bem acompanhada de mim mesma.
Sou do time que acha que amor maduro, é amor mansinho. Sem tempestades e desassossegos.
Já busquei tantas coisas em um relacionamento. Grandes momentos, desses escritos nos contos de fadas. Hoje eu só quero verdade. Quero um cara que deixe claro que é comigo que ele quer estar. E ponto.
‘Homens’ que mal sabem o que procuram em uma mulher, não servem pra mim.
Porque, por mais que eu saiba o que quero, eu preciso me sentir segura ao lado do cara que eu escolhi pra dividir momentos e sorrisos e até as lágrimas.
Só quero que seja simples. E de verdade. Sem máscaras, sem passado no meio da gente, sem expectativas sobre o futuro.
Viver o hoje, aproveitando a simplicidade de cada momento, como um presente da vida.
Porque eu só deixo o amor entrar, se ele estiver acompanhado de paz...

domingo, 18 de dezembro de 2011

Meu Caro Rubem Alves

Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.

Rubem Alves

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"Quando a estrada fica interrompida,
o desvio pode ser interessante..." 


(Martha Medeiros)




Sinto que,
 ao cruzar a cancela,
não estarei entrando em nenhum lugar,
 mas saindo de todos os outros...

  1. (Chico Buarque, do livro Estorvo)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Lia

"...Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a apena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer."
Lya Luft



segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"Tem dias que a vida parece estar acontecendo em outro lugar."

“Mas eu insisto em nós e vim aqui te pedir cuidado. 
Não me deixa ir embora.” 

[Tati Bernardi]





Erra também é bunito



O pensamento em suspensão...
e eu cansada de fazer tantas perguntas e de imaginar mil possíveis respostas.
Estava tudo ali, mas eu me enganava completamente.
Não era preciso tanta explicação !
A vida lá fora flertando descaradamente comigo, e eu ocupada com tantos pensamentos.
Às vezes é preciso relaxar, diminuir o ritmo, parar de querer controlar tudo ao redor.
Deixar rolar. Descansar os sentimentos.
Errar também é bonito.
Solange Maia

 Deixei poucas pessoas conhecerem a mulher que me habita. Essa de verdade, cheia de imperfeições e desordens íntimas, mas que carrega mais ternura do que se pode imaginar. Eu e meus olhos atrevidos, minha fome de amor, e essa fragilidade engraçada de quem quer ser a protagonista de um sonho bom.

"O que me assusta é que não dói mais. Estou tão vulnerável que não sinto nada."

Minha saudade saúda tua ida 
mesmo sabendo que uma vinda só 
é possível noutra vida.
 Aqui, no reino do escuro e do silêncio,
minha saudade absurda e muda procura às cegas te trazer à luz .
Ali, onde nem mesmo você sabe mais talvez, enfim nos espere o esquecimento .
Aí, ainda assim minha saudade te saúda e se despede de mim .


Alice Ruiz ,


domingo, 27 de novembro de 2011

Eu me perguntei porque quando mais precisamos
de nós mesmos, geralmente mais nos faltamos.
Que estranha escolha é essa, que faz a gente alimentar
os abismos, quando mais precisa valorizar as próprias asas.

(Ana Jácomo)


Não há memória mais terrivel do que a pele..
A cabeça pensa que esquece..
O coração sente que passou..
Mas a pele arde, invulnerável ao tempo...

(Inês Pedrosa)

Hoje eu senti....

Derramei três lágrimas: a primeira escorreu pela face e perdeu-se na boca; a segunda morreu 

achatada contra o assoalho; a terceira caiu na tua mão. E foi a que mais doeu..








domingo, 30 de outubro de 2011

(...)Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade. A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções .

Seja menos burra com você mesmo, não derrame mais nenhuma lágrima e não perca mais nenhum segundo

A vida te dá uma rasteira. Você cai, tropeça, o sonho borra a maquiagem, o coração se espalha. Voce sente dor, perde o rumo, perde o senso e promete: Paixão nunca mais. Você sente que nunca irá amar alguém de novo, que amor é conversa de botequim, ilusão de sentido, que só funciona direito pra fazer música, poesia e roteiro de cinema. E voce inventa. Um amor pra distrair. Um amor pra ins-pirar, um amor pra trans-pirar. Uma paixão aqui, um quase-amor ali. Ainda bem que existem os amigos, para amar, abraçar, sorrir, cantar, escrever em recibos e tirar fotos bonitas. E a vida segue. Sua imaginação te preenche, e seus amigos te dão colo, Vodka e dias incriveis!!!"


Fernanda Mello


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

The End


Senta aqui, deixa eu te falar uma coisa. Ele que some por dias, corre atrás só 
quando te vê caminhar pra longe, desmarca programas em cima da hora, é sucinto 
quanto à própria vida e mais superficial que piscina infantil. Esse mesmo que 
você tanto fala, e todo dia vem com alguma nova furada tentando desesperadamente 
consertar pra ter em troca um pouquinho de amor marejado. É, ele só não te quer. 
Simples. Pior de tudo, que nem culpado pode ser. Talvez sim, por não ser honesto 
logo de cara. Contudo, bem sabemos o quanto a covardia já é item de fábrica em 
praticamente todo ser bicho homem, e por isso, a prolongação de situações 
tediosas, insuportáveis e para nós, torturantes. Não é porque terminou um namoro 
agora, ou nunca teve simplesmente um relacionamento decente. Nem porque é novo, 
ou anda trabalhando demais, ou ainda, a faculdade exige muito. Pra cada 
alternativa que você cria, uma desculpa. Chegar a esse ponto obscuro de perder 
qualquer amor próprio na busca de se achar num sentimento que o outro nem chegou 
a cogitar existir. Larga esse telefone, apaga o número desse panaca, não espera 
mensagem nenhuma porque na verdade, o que ele quer é ter em quem afogar a 
pressão final da noite (ou o próprio ganso), de quem não conseguiu algo na 
festa, e tenta tentando a agenda-geladeira onde congela quem desperta interesses 
específios e minúsculos, diante as possibilidades de amor de amor decente tão 
sonhadas.


Você, que quer tanto ter com quem dormir - e que isso não se resuma a um 
programa especificamente sexual. Mas sim de braço masculino envolto em cintura 
feminina, duas respirações próximas, pé com pé. Você, que aceita ir pra casa do 
sujeito que mal deu um beijo na boca e se culpa o dia inteiro seguinte, sabendo 
que juntamente com sua dignidade e o caráter do cara, suas chances de algo que 
desenrole tenham caído drasticamente. Você, que cumprimenta ele que vira a cara 
de tanta vergonha. Você, que liga bêbada no meio da madrugada com aquele punhado 
de esperança embutido na voz alcoolizada. Você que intima, sufoca, stalkeia e 
cola no pobre coitado: dá um tempo. Se foque em si. Nutra aquele amor que desde 
cedo mamãe e papai plantaram e ensinaram que, é importante, sim. É olhando muito 
pro próprio umbigo que a gente chama atenção em se concentrar tanto sendo nosso 
centro do mundo que acabamos chamando atenção que puxa, ela se cuida. Melhor: se 
gosta. O único amor livre de qualquer traição, infelizmente, é o próprio. Tá pra 
nascer quem prefira o outro a si mesmo, depois de descobrir a maneira boa e 
sadia de se automimar.


Por isso é que digo: desencane, que uma hora aparece. Não aquele seu tipo 
cafajeste e sem um pingo de índole, mas um cara bacana que de repente assim, aos 
pouquinhos, vai tomando espaço e te dando possibilidade de surpresas, estômagos 
compressos e pernas agitadas. Sem expectativas, deixando toda e qualquer 
possível irrealidade, imaginação fértil longe do terreno dos pés no chão. Agora, 
se não é você quem ele quer, caia fora. Vença a insistência interna em achar 
que, só porque você está ali a todo o momento e fazendo certa pressão, ceder é a 
única escapatória do sujeito. Há ainda os modos 'ignorar' e 'partir pra 
ignorância' - o que não se baseia em violência física, mas na irritação tão 
suprema que chega a ponto de deixar a razão de lado e as palavras soltas, 
ferinas na sua direção. Se passaram três dias, e o sumiço do moço se fizer uma 
constante, se você é deixada falando sozinha com frequência, se quem apenas se 
preocupa e sente esse caos que se tornou a situação toda também é você, se 
livre. Vá para uma academia, faça compras, se foque no trabalho, saia com as 
amigas, adote um animal. Tudo, menos descentralizar da sua vida, desse momento 
tão presente que se inaproveitado passará em branco enquanto você, tentando o 
impossível, mirou em quem não se deixa atingir tão fácil, não por você.


Chega de desilusão e contos de fada, de cegar à si mesma e não escutar quem 
tanto tenta alertar quanto aos perigos de um comportamento assim, tão irracional 
e errôneo. Corações pulsam mesmo, mas será que não dão defeito assim, 
despertando a qualquer toque que pode na verdade ter sido um esbarrão, um 
desencontro, um mero engano. Ferrenha seja a boa vontade em desconfiar no começo 
e se entregar, apenas quando o jogo estiver aberto e os sentimentos, 
simbióticos. Que amor mesmo, a gente não persegue: se dá conta assim, como quem 
não quer nada, mas deseja lá no fundo muito que pode mesmo ser. E se beija, e se 
quer, e sente falta mesmo tendo passado apenas meia-hora longe. E liga. 
Responde. Procura. Tanto de um lado, quanto de outro, o lucro - que ao invés de 
líquido, é sentimental - vem em dobro e em forma de sorrisos apaixonados e 
cafuné na cabeça.

Regras?



Espere ele vir falar com você. Caso ele não venha, vá atrás uma única vez. Se vocês conversarem já há alguns dias, cada um tem a vez para chamar o outro por mensagem instantânea. Ele não chamou você? Espere. Não se atire, não se jogue, pareça "fria-controlada-indiferente" e ele dará muito mais valor. Faça-o esperar para ter sexo, mesmo que você queira muito. Não ligue no dia seguinte. Apenas cumprimente quando esbarrar com ele em festa. E todo esse sistema que nos limita a sermos blasés e indiferentes, quando na verdade mesmo, gostaríamos de ser marcantes heroínas que chegam na vida do cara pra mudar de vez. E pra melhor.

Seguir regras, para mim, sempre foi um suplício. Em casa, nos colégios em que estudei, e mesmo em lugares públicos, há sempre limites tênues, que se quebrados, nem fazem estardalhaço. Às vezes me revolto, incompreendo métodos e doutrinas, e enfim, quase nunca sigo à risca o que me impõe. Acatar ao resguardo nos faz evitar muitos percalços, uma boa quantia de desilusões - porém, por outro lado, alimenta a masculinização dos relacionamentos, o que faz com que o padrão de termos sempre que estar esperando que ajam, ao invés de agir, permaneça ao longo das décadas. Tem diminuído, eu sei. Contudo, continuamos reféns de atos (ou da falta dos mesmos) do lado dos moços que vêm de Marte. E a cartilha das meninas repreende quem não segue os mandamentos de não amar demais, demonstrar de menos, falar pouquinho e parecer comportada e bem adestrada, mesmo quando na realidade não se é.

Se está afim, vai lá e tenta: que a gente acha que sabe de tudo, mas dos mistérios das pessoas sabe pouco demais, mesmo quando se conhece bastante. Acredito nas válidas tentativas de se tentar a felicidade, ainda que a cicatrização apenas é apenas acelerada quando por pouco tempo nos doeu e já foi. Se ontem foi esplêndido, não se sinta corrompida pelas opiniões alheias que falam tanto, mas não nos dizem realmente nada de útil. Ter a intuição como atriz protagonista quando nós mesmos só conseguimos coadjuvar se torna necessário ao longo dos anos que passam. Crer mais no que se sente internamente, na bondade de com quem nos relacionamos, no contorno que a vida dá aos dias.

 Quanta menina espera namorar  para transar  e é largada por ai,assim que acontece? Quanta garota que não liga e o moço não liga, e os dois quase que se envenenam de tanto orgulho? Ou que some e nunca mais reaparece?E que fica sem entender mais nada, porque não seguiu o que acreditava, mais simplesmente "o certo a se fazer"_ Quem é que nos diz?Depois de certa idade, o que é certo,  que a gente precisa que seja?Só a gente, Feliz ou infelizmente.



 Que a gente beije quando sentir vontade, saia quantas vezes e com quem desejar, vá para cama (com segurança e cuidados necessários, sempre bom reforçar), quando o feeling nos tomar conta. Há tanto relacionamento por aí que venceu barreiras, preconceitos, quebrou tabus e continua de pé, justamente por ser forte o suficiente para se fazer o que bem entender, com espontaneidade o bastante para ser maior que qualquer regrinha que outra que os comportamentos não sigam. Que se mantenha a vontade própria no alto das prioridades dessas nossas vivências. Nada no mundo é tão insustentável que não nos faça suportar com decência. Que o respeito mútuo seja a única necessidade vital da vida a dois, que a gente namore quem nos der vontade, que aja de acordo com os princípios que escolheu para si, que não se deixe enganar fantasiando ser quem por tempo suficiente nossa autenticidade não permite. Sem regras, só o amor.
Calmila.....

Diga sim a sua felicidade, deixe ela te mostrar a vida de verdade

"Vamos acordar! Vamos acordar! Tem gente furando a fila e sendo feliz no nosso lugar."

"Insistir naquilo que já não existe, é como calçar um sapato que não te cabe mais !
Machuca, causa bolhas, chega a carne viva e sangra ...
Então melhor é ficar descalça .
Deixar livre o coração , enquanto vive ...
Deixar livre os pés , enquanto cresce ...
...Porque quando agente cresce o numero muda !"

Não se Puna, nem fique se Torturando pelo seu Mestrado em Decepções. Respire bem fundo, o que é pra ser seu, Ninguém Toma.

Um brinde aos amores não correspondidos,
duas doses pela falsidade de determinadas pessoas,
e um MUITO OBRIGADA aos fabricantes de TEQUILA e VODKA.







""

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Nada do que fui me veste agora..



Posso não olhar o mundo
fazer um faz-de-conta da vida
não perceber, mesmo percebendo
quando você passa e descompassa
minhas certezas tolas

Preciso não querer tanto
algo mais bonito que um encontro
mais eterno que todos os arrepios
e todos os caminhos que te levam
nesses desencontros

Posso não abrir as cortinas
e o coração para cada amanhã
tenho procurado aprender coisas novas
se há quem viva para o futuro, vivo
para voltar

Preciso esquecer o que ainda é difícil,
e insiste nascer impossível te afastando
dos meus olhos, da minha rua,
do que ainda pode ser, por um instante,
pra sempre

                                                                                                               Priscila Rôde & Cáh Morandi

domingo, 9 de outubro de 2011

caminho



'(...) eu tive que ficar quieta no meu canto, toda lacerada pela falta. Foi um período solitário em que vivi o luto necessário. Ele nem desconfiou que eu também estava triste, talvez se sentisse melhor se soubesse. Mas eu tinha que fazer valer minha palavra, demorei muito tempo tomando coragem. Demorei muito tempo desparafusando aquela gaiola e, depois, reaprendendo a voar.

Tive ímpetos de escrever uma carta falando das qualidades dele, de tudo que havia me feito crescer. Mas quando fui escrever só consegui dizer: desculpe, não se pode negociar com a paixão. Porque eu também não entendo às vezes esses caminhos que a vida tece. E nós que morávamos um no outro, ficamos sem casa. Perdoe a falta de abrigo, é que agora eu moro no caminho.'



Marla de Queiroz



Sou precisamente entre doce e salgada, como lágrima. Às vezes de sol, às vezes de lua, mas com luz necessária para iluminar-me pra dentro! Tenho a alma lilás! Eu não caibo aqui, eu nem caibo em mim. [Sophia Compeagá]

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Vento


'Como o tempo custa a passar quando a gente espera!
 Principalmente quando venta. 
Parece que o vento maneia o tempo.'

[Érico Verissimo]



“Um dia, atiro a alma ao ar e serei friamente feliz.”






Não quero viver como uma planta que engasga e não diz a sua flor. Como um pássaro que mantém os pés atados a um visgo imaginário. Como um texto que tece centenas de parágrafos sem dar o recado pretendido. Que eu saiba fazer os meus sonhos frutificarem a sua música. Que eu não me especialize em desculpas que me desviem dos meus prazeres. Que eu consiga derreter as grades de cera que me afastam da minha vontade. Que a cada manhã, ao acordar, eu desperte um pouco mais para o que verdadeiramente me interessa.

Não quero olhar para trás, lá na frente, e descobrir quilômetros de terreno baldio que eu não soube cultivar. Calhamaços de páginas em branco à espera de uma história que se parecesse comigo. Não quero perceber que, embora desejasse grande, amei pequeno. Que deixei escapulir as oportunidades capazes de bordar mais alegrias na minha vida. Que me atolei na areia movediça do tédio. Que a quantidade de energia desperdiçada com tantas tolices poderia ter sido útil para levar luz a algumas sombras, a começar pelas minhas.

Que eu saiba as minhas asas, ainda que com medo. Que, ainda que com medo, eu avance. Que eu não me encabule jamais por sentir ternura. Que eu me enamore com a pureza das almas que vivem cada encontro com os tons mais contentes da sua caixa de lápis de cor. Que o Deus que brinca em mim convide para brincar o Deus que mora nas pessoas. Que eu tenha delicadeza para acolher aqueles que entrarem na roda e sabedoria para abençoar aqueles que dela se retirarem.

Que, durante a viagem, eu possa saborear paisagens já contempladas com olhos admirados de quem se encanta pela primeira vez. Que, diante de cada beleza, o meu olhar inaugure detalhes, ângulos, leituras, que passaram despercebidos no olhar anterior. Que eu me conceda a bênção de ter olhos que não se fechem ao espetáculo precioso da natureza, há milênios em cartaz, com ou sem plateia. Quero aprender a ser cada vez mais maleável comigo e com os outros. Desapertar a rigidez. Rir mais vezes a partir do coração.

Quero ter cuidado para não soltar a minha mão da mão da generosidade, durante o percurso. E, quando soltá-la, pelas distrações causadas pelo egoísmo, quero ter a atenção para sincronizar o meu passo com o dela de novo. Quero ser respeitosa com as limitações alheias e me recordar mais vezes o quanto é trabalhoso amadurecer. Quero aprender a converter toda a energia disponível às mudanças que me são necessárias, em vez de empregá-la no julgamento das outras pessoas.

Que as dificuldades que eu experimentar ao longo da jornada não me roubem a capacidade de encanto. A coragem para me aproximar, um pouquinho mais a cada dia, da realização de cada sonho que me move. A ideia de que a minha vida possa somar no mundo, de alguma forma. A intenção de não morrer como uma planta que engasgou e não disse a sua flor.


Ela chega com tudo no navio já 
distante do porto. E lá vem o vento! Levantando a flor, roupa de sua doçura................................

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Para sempre é sempre por um triz..

"Eu não estou me reconhecendo, mas estou me observando. Não estou alegre como de costume, mas também não estou triste. Contemplar o coração também é uma estrada que deve dar em algum lugar melhor."

(Denise Portes)
 
 
"Era eu entre aspas. Sugada pelo susto para dentro do mudo retrato...Recolhendo despedidas com os dedos.Eram os minutos desmaiando sua lâmina afiada pelos meus pensamentos plantados em algum lugar no chão, fatiando a memória como se eu tropeçasse no pretérito de minhas anêmicas lembranças.Era eu flutuando no ar feito partículas dissipadas sobre o instante...Era meu coração recortado... Como se fosse apenas uma silhueta vazada por onde o vento cortava caminho. Era eu página virada. E os pingos de chuva franzindo a imagem pintada nas poças dos meus olhos. Era eu chutando sonhos esfumaçados que brotavam do asfalto quente...Por dentro, o eco. O retumbar fugidio de quem viveu de palavras e as recebeu nunca, que perdeu o paradeiro de uma caneta seca de nada sentir e sentia enfim... Era a alegria tumultuada de quem sorri como uma borboleta que se entrega sem resistência ao abraço do vento, salva da neutralidade ou de qualquer sentimento rasurado. Eram as palavras escapulindo afoitas do meu peito. Logo eu, a mulher mais fraca que já conheci, que espiava fantasmas escondida por dentro dos olhos, agora arrancando letras soltas do meu piano de contar. Era eu, aureolada pelo verbo que dependurava em linhas eternas as sensações de apenas um segundo. A visão, este conto contado pelos olhos. Foi demais para mim. Pois há esta desmesurável chance em minha escrita. Esta contradição que rompe com flores o véu do silêncio. Era eu sem mais temer a descontinuidade das coisas. A cada palavra que se completava no papel, um pedaço que faltava, colava-se novamente ao coração." 
                                       

Ziris-Blog: Um Toque de Vida
 
 

domingo, 11 de setembro de 2011

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.”


O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.O que ela quer da gente é coragem.
Guimarães Rosa

Tem paciência com tudo não resolvido em teu coração e tenta amar as perguntas em ti, como se fossem quartos trancados ou livros escritos em idioma estrangeiro. não pesquises em busca de respostas que não te podem ser dadas, porque tu não as podes viver, e trata-se de viver tudo. vive as grandes perguntas agora. talvez, num dia longínquo, sem o perceberes, te familiarizes com a resposta."
Rainer Maria Rilke

domingo, 4 de setembro de 2011

Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão..


Nós nos apertamos muito, às vezes durante longos trechos do caminho, às vezes durante o caminho todo, porque queremos ser amados. Esticamos a corda, fazemos escolhas equivocadas, abrimos brecha para as doenças, mentimos para nós mesmos, criamos as mais estranhas confusões, porque queremos ser amados. Machucamos, machucando-nos. Passamos ao largo dos sentimentos mais viçosos, das verdades mais intensas, das belezas mais risonhas, porque queremos ser amados. Erguemos muros altíssimos, quando tudo o que queremos é contato com a alma. Amordaçamos as nossas sementes, engaiolamos os nossos pássaros, tentamos conter os nossos rios, porque queremos ser amados.

Porque queremos ser amados, por mais estranho que pareça, às vezes fechamos o coração ou abrimos só um pedacinho dele e, ainda assim, lá na porta dos fundos. Sustentamos enganos, vestimos roupas que não nos servem, fazemos pactos com a escassez, ignoramos prazeres, aguentamos privações, porque queremos ser amados. Fazemos contas, medimos palavras, contabilizamos gestos alheios, porque queremos ser amados. Mantemos a ilusão de que alguém ou alguma coisa trará, enfim, a chave que abre o nosso cárcere, e, enquanto o tal carcereiro não aparece, morremos por falta de alegria, um pouquinho a cada instante, porque queremos ser amados. Apagamos sóis, em vez de acendê-los. Soterramos sonhos, em vez de cultivá-los. Desenhamos uma história que nada tem a ver com a gente. Deixamos crescer a erva daninha até o ponto em que ela oculta as flores mais lindas e mais nossas, porque queremos ser amados.

Até que num momento de abertura, depois de muito cansaço, depois de muito doer, depois de muita neblina, depois de muita busca, sobretudo, a gente descobre, contente que nem criança diante de novidade, onde o amor estava o tempo todo. Onde estava a chave. Onde estava o alimento. Começamos a dedicar carinho e delicadeza a nós mesmos, aqueles que pensávamos que podiam vir somente dos outros. Começamos a ser também a mãe e o pai de nós mesmos, e também os filhos, os enamorados, os amigos, os benfazejos. Descobrimos que o interruptor que faz a vida acender esteve o tempo inteiro no nosso próprio coração. Esteve o tempo inteiro ao nosso alcance, muitíssimo mais do que para qualquer outra pessoa do planeta. Descobrimos que a capacidade de sentir amor é nossa. Nada, ninguém, poderá roubá-la, influenciá-la, desdizê-la ou responsabilizar-se por ela. O que nos cabe é cultivá-la. O que nos cabe é aprimorá-la.

Começamos a caminhar a partir da fonte inesgotável de amor que já nos habita. Que é a nossa essência. Que independe de outros, que são preciosos, sim, e muito, mas para enriquecer a nossa passagem pelo mundo. Para trocarmos aprendizado e entusiasmo. Para brincarmos juntos. Para partilharmos afeto. Para partilharmos também as dores que, invariavelmente, nos visitam. Começamos a caminhar, enfim, a partir do amor que é essa matéria-prima disponível em nós, que permeia tudo o que podemos criar, agora, com a nossa existência. Começamos a querer somar com a nossa contribuição, seja lá qual for, porque quando a gente começa a se amar começa também a sentir que dar é o primeiro jeito de recebimento. A vontade de fazer o amor circular é tão genuína, é tão natural, que a gente quer molhar a vida inteira nesse oceano amoroso, sabedores de que somos parte dele.

Continuamos a querer ser amados, é claro. Amados com o charme que flui. Com o olhar que abençoa. Com a atenção que enleva. Com a intimidade que ri. Mas o amor que vem dos outros não é mais salvação, a única chance de felicidade, o tapa-buracos, o paliativo para a carência que o afastamento de nós mesmos nos provoca. Não é mais remédio, fórmula, chá milagroso ou coisa que o valha; não é mais parâmetro medidor do nosso valor. É uma dádiva. É mais um espelho que reflete a nossa própria capacidade de viver um amor que inclui. Um amor que canta. Um amor que é gentil. Um amor que é paciente. Um amor que sabe perdoar quando é preciso. Um amor que cuida, porque o cuidado é da natureza dele. Um amor que é grande e que abraça com calor e sem pressa. Um amor que, generoso, nos respeita e nos acolhe, com tranquilidade, do jeitinho que a gente é. Um amor que acredita na gente com fé. Com frescor. Com alegria. Às vezes, circunstancialmente, com um bocado de desafio também. Mas, principalmente, um amor que não sabe o que é esforço.

Amor cria espaço e beleza, é só a gente olhar para o universo. Quem entende bem dessa história de aperto é o medo, esse nosso carcereiro sabotador. 
Ana Jácomo

A palavra me olha nos olhos e me diz calma, fugidia e imensa: há muita poesia guardada na paciência. Espero.


Quando não se tem muletas: vá mancando
Quando se perde um dente: procure um sorriso
Quando não se tem a quem abraçar: abra os braços pro vento
Quando percebe-se que as pernas estão maiores do que as asas: corra, para comprar um sorvete
Quando existe mais dele em você do que você mesma: comece a cuidar de um animal, você se tornará a pessoa mais importante na vida de outro
Quando não se colhe flor na primavera: carregue mais folhas no outono
Quando se está sempre sozinha: comece a gostar do que ainda não veio
Aprender dói mas vale a pena. Importante é continuar
Agora pra terminar ouça: comece a achar que as coisas têm jeito
Acreditar em esperança é abrir uma janela bem no meio do seu desespero...

...Sinto que,
 ao cruzar a cancela,
não estarei entrando em nenhum lugar,
 mas saindo de todos os outros...

(Chico Buarque)